A "mecanização mental" é nociva á formação do aluno, dificultando seu raciocínio e sua autonomia como cidadão. Essa prática promove poucas oportunidades para que o aluno, através de seus próprios conhecimentos e raciocínio, deduza, sozinho ou com uma orientação adequada, a maioria das fórmulas. É o caso, por exemplo, das fórmulas envolvendo as leis físicas dos gases, propriedades coligativas, eletrólise, etc. Desse modo, a maioria dos alunos não percebe os conceitos subjacentes, que acabam ficando ocultos pela excessiva manipulação algébrica.
Essa forma de apresentar o conteúdo pode ser uma das causas que fazem com que, comumente, alunos do ensino médio sejam incapazes de resolver problemas, mesmo os mais simples, caso não disponham de fórmulas. Essa dependência é manifestada em algumas observações feitas por alunos quando deparam com problemas de Química.
- Quais dessas fórmulas devo usar para resolver o problema?
- Sei qual é a fórmula para se aplicar, mas não consigo resolver o problema.
- Só consigo resolver um problema quando já resolvi outro parecido.
- Esqueci a fórmula e não consigo resolver esse problema.
- Apliquei uma fórmula no lugar da outra.
- Tem muita fórmula para decorar.
Para reverter esse quadro, é preciso adotar outras estratégias de ensino que priorizem a compreensão do fenômeno, a apropriação dos conceitos estudados. Sendo assim, qualquer generalização deve ser deduzida e analisada a partir do relacionamento e significados envolvidos, antes de ser transmitida ao aluno. Esse objetivo deveria estar presente em todo ensino e, particularmente, nos conteúdos que exigem o manuseio de fórmulas. com a sistemática geralmente empregada, entretanto, ele dificilmente é atingido. Assim, as fórmulas matemáticas devem ser ensinadas através dos conceitos que expressam e reconstruídas a partir destes, em vez de transmitidas diretamente.
Uma possível alternativa para atingir esse objetivo é mostrar que os problemas podem ser resolvidos não somente pela aplicação das fórmulas, mas, também, na ausência destas. Desse modo, permite-se que os alunos tomem consciência de que não é necessário decorar tais fórmulas. Isso, portanto, elimina, ou pelo menos ameniza, a ideia muito comum entre alunos do ensino médio de que a Química é "decoréba".
A aprendizagem de fórmulas, tal como aqui considerada, deve ser consequência e não antecedente dos conceitos e princípios. Somente quando estes fatos forem compreendidos e manipulados, as fórmulas poderão ser aplicadas como recursos sistematizadores, deixando então de ser, para grande parte dos alunos, um processo meramente mecânico.
A relação entre conceito e fórmula deve ser entendida como tendo um caráter reversível. Se o estudante é capaz de resolver problemas através de formulas, deverá também poder resolvê-los por meio dos conceitos por elas expressos e das relações entre eles. Se essa reversibilidade não for desenvolvida por ocasião da aprendizagem inicial, a aquisição de conceitos e de suas respectivas fórmulas dar-se-á isoladamente. Daí, então, ser frequente encontrar alunos perguntando sobre o significado conceitual de uma fórmula.
A ausência da reversibilidade já mencionada pode provocar algumas consequências indesejáveis, como: a capacidade de o aluno racionar conceitualmente torna-se deficitária, o que o leva a desenvolver um hábito excessivo e desnecessário de memorização em detrimento de sua capacidade criadora, que o poderia conduzir, por si só, á fórmula desejada. Desse modo, nega-se ao aluno a possibilidade da descoberta e as consequências benéficas que disso resultam. Por outro lado, o professor, apesar de seus esforços, observará, perplexo, que seus alunos, quando solicitados a responder a questões conceituais, mesmo as mais simples, sentem enorme dificuldade. Tal fato acontece desde o início da aprendizagem, quando não é dada ao aluno a oportunidade de desenvolver o conteúdo de forma conceitual e não apenas algébrica, tanto na exposição teórica como nos problemas.
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